domingo, 5 de dezembro de 2010

A-do-ro os textos da Denise Fraga... Ela é ótima!

Beijos, ótimo fim de semana...

Profº Ju

Chupeta com gosto de infância

Denise Fraga


Costumo dizer que tenho a melhor profissão do mundo. Meu ofício me permite ir a lugares impossíveis, viajar no tempo, ter comportamentos estapafúrdios, ser mal educada, matar e não ser presa, morrer e levantar alguns segundos depois. Com meu ofício, tenho a graça de poder fazer coisas inimagináveis de serem feitas na minha idade. Há um tempo atrás, precisei fazer um bebê, vejam só. Coisa engraçada me imaginar careca, sem dente e cheia de dobrinhas engatinhando num tapete. E assim, desse tamanhão. A cena estava um tanto desconcertante, afinal não é tão fácil assim entrar na pele de um bebezinho. Até que me foi oferecida uma chupeta. Achei esquisito, mas na hora em que coloquei a chupeta na boca, foi muito mais fácil virar um bebê. Acho que, assim como andamos de bicicleta para sempre, uma chupeta na boca nos acalma como no tempo em que, com ela, caíamos nos braços de Morfeu. Aquela mera chupetinha me fez voltar para algum lugar extremamente confortável. Vale experimentar. Vá agora mesmo à farmácia mais próxima, se seus pequenos já cresceram. Se não, pegue uma emprestada, tranque-se no quarto, encolha-se na cama e veja que gostosura. Agora, se você é uma mãe que resistiu bravamente e nunca deu chupeta para seu pequeno chorão, apesar de morrer de medo dele apelar pro próprio dedo, mesmo ouvindo "a chupeta a gente tira, o dedo não" da sua sogra, não vai saber muito bem do que estou falando.

Eu dei chupeta. Como toda mãe moderna, informada e metida a psicopedagoga, tentei não dar. Mas dei. E até hoje lembro da doce sensação do meu pequeno se aconchegando no meu colo depois de abocanhá-la para dormir.

Hoje, eles têm 10 e 8 anos e o pavor que eu tive de estar errando na hora em que resolvemos dar a chupeta àquele bebezinho se contorcendo de cólicas não significa mais nada. Naquele dia, me senti fracassada por apelar para aquele absurdo artifício, quase uma covardia, oferecia-lhe um vício, entortaria seus dentinhos, seria difícil tirar. Tudo bobagem. As velhas chupetas de Nino e Pedro jazem agora esquecidas no fundo do armário na caixa de pertences do Papai Noel. Entregaram juntos ao bom velhinho. Uma considerável desvantagem para o pequeno Pedro, um ano e meio mais novo. No dia seguinte à noite de Natal, ele acordou às sete da manhã e pediu a "peta" para continuar a soneca. "A gente deu ontem pro Papai Noel, lembra Pedro?" Duas horas depois, desesperada de sono e com os ouvidos exaustos, entreguei os pontos e resolvemos procurar alguma chupetinha que, quem sabe, a mamãe poderia ter "esquecido" no fundo de alguma gaveta. Deleitou-se por mais um tempo o pequeno Pedro. E eu ainda nem tinha provado a delícia. Se tivesse, talvez deixasse mais.
Hoje, nenhum deles usa chupeta. Nem eu. É bom que se explique. Apesar da minha experiência, sei que não fica bem. Se bem que, às vezes, na sala de espera do aeroporto, observo o vai-e-vem de executivos estressados, um celular na orelha, outro na mão, laptop no colo e penso que se grande parte da humanidado ao menos dormisse de chupeta, a vida talvez lhes corresse mais leve. As farmácias venderiam menos soníferos e os ortodontistas enriqueceriam ainda mais. Doce delícia.

TRAVESSURAS DE MÃE : Suspiros e muita bola no pé. Melhor do que gostar de futebol é quando a diversão acontece em família

Por Denise Fraga - atriz

 
Quando fiquei grávida, um dos primeiros presentes que recebemos para o pequeno Nino foi uma bola. Mal ele aprendeu a andar, quase sem querer já lhe ensinamos a chutar, e uma das primeiras palavras que qualquer menino brasileiro fala é "gol". O Luiz costuma dizer que um homem gostar de futebol já é meio caminho andado, tem sempre como começar uma conversa.
Futebol dá inclusão social, ele diz. Lembrando das idas ao Maracanã com meu irmão, das intermináveis conversas de domingo e das fotos do Zico na parede do quarto, isso faz total sentido. Sempre gostei de futebol. Não exatamente dos passes, jogadas e lances, mas de todo o ritual que envolve a partida. Sou uma rara mulher que sabe acusar um impedimento, mas, invariavelmente, estou olhando para o outro lado na hora do gol. Acho uma delícia ir ao estádio, torcer por um time e saber cantar gritos de guerra, portanto torci muito para que meus filhos se familiarizassem com a redonda. Com 5 e 6 anos, pediram para ir para a primeira escolinha de futebol. Ficávamos do lado do campo torcendo por aquelas perninhas moles. Nino roía as unhas, olhando pro lado. Deixava a bola passar e, de vez em quando, suspeitávamos que ele corria pro lado contrário da jogada pra não receber um passe. Na nossa casa não era obrigatória a escolinha de futebol, mas talvez fosse mesmo uma grande credencial para o recreio da escola. Nunca deixaram de ir. Hoje vivem com a bola no pé e só pedem de presente chuteira, bola e camisa.
Mas não basta um menino gostar de futebol. É bom que a família torça unida pelo mesmo time, para felizes idas ao estádio. Me tornei palmeirense por amor ao meu marido e profunda admiração pelo senhor Luiz Felipe Scolari. Sou flamenguista de nascença e achei pouco grave virar casaca quando se muda de estado. Mas fiquei realmente preocupada quando o pequeno Nino, com 5 anos, me pedia pra ser corintiano, em troca de ir tomar banho ou escovar os dentes. Um dia, o Luiz entrou no quarto preocupado. "Falei pra ele que ia pensar, mas acho que eu vou dar a tal camisa do Corinthians que ele tá pedindo." Fiquei desesperada de pensar que não iríamos mais juntos ao estádio. "Não!!! Ele tá querendo virar corintiano por causa do Rogerinho. Diz pra ele que a gente é palmeirense e não consegue dar a camisa do Corinthians nem pro nosso filho querido." Graças a Deus, hoje, meus dois filhos torcem pelo verdão. Graças a Deus e à segunda divisão.
Depois de, durante algum tempo, mostrarmos, com a TV sem som, vários gols do Goiás, que também com camisa verde marcava, lá em casa, gols pelo Palmeiras, foram nos jogos da segunda divisão que eles viram o número necessário de vitórias para carimbar de vez o Palestra no peito. Santa segunda divisão, que para meninos de 4 anos pouco significava e não os impediu de gritar várias vezes "gol" por um time que não estava indo nada bem na primeira.O Palmeiras ainda não se recuperou. Este ano escapamos por pouco de uma nova e consciente descida. Mas meus pequenos já entendem um pouco mais a respeito de perseverança e fidelidade e vivem com suas camisas verdes.
Mas o que eu mais gosto mesmo é de saber uma coisa que eles ainda nem desconfiam. Que, gostando de futebol, um homem se deixa ser um pouco menino a vida inteira.